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sábado, 17 de abril de 2010

O Signo Linguístico

A nossa percepção de mundo é, sem dúvida, mediada pela linguagem. A língua é, por isso, a forma mais eficaz de apreender a realidade e de estabelecer diferenças entre as coisas em que nele estão presentes. Para efeito didático, é preciso ressaltar que a língua não é um sistema de nomenclatura. Para isso, a língua constitui-se de um complexo sistema de signos que é capaz de “categorizar”, interpretar e organizar o mundo.

Entretanto, cada língua goza de autonomia para estabelecer as relações entre os signos e seus referentes. É por isso que o linguísta defenderá a tese de que cada língua pode categorizar o mundo de forma diversa.

O conceito de signo –– entendido como significante e significado, respectivamente a impressão psíquica que temos do som e o seu conceito; sua definição –– é o primeiro fator a ser analisado: o signo linguístico não é a coisa ou o objeto real, concreto, o signo linguístico é, como diz Saussure, um conceito, uma definição arbitrária e imotivada que faz referência a algo que está no mundo extralingüístico. Esse fato implica uma outra teoria, a de que cada língua organiza e categoriza e interpreta o mundo de maneira diversa.

A união significante/significado é uma relação conceitual e arbitrária sistematizada por cada língua, a fim de que uma mesma comunidade linguística partilhe dos mesmos signos, formando um sistema coerente e definido. Ora, se o signo não é a realidade, mas um conceito/imagem acústica, em cada língua haverá, então, signos diferentes para simbolizar e fazer referências ao mesmo “ente”, “ser”, “coisa” ou objeto. Esse fato se deve a autonomia que cada língua possui para arbitrar e reger o seu léxico, a sua estrutura, compondo para isso um sistema de signos.

Por exemplo: existem vários signos para designar ou categorizar o que em português conhece-se pelo signo mãe: em inglês mother, em latim mater etc. O que queremos destacar aqui é o fato de que cada língua possui sua própria arbitrariedade na relação signo/referente, isso comprova, segundo Saussure, que o signo não é a realidade, mas uma impressão psíquica que temos de um dado som e seu conceito sistematizado em uma língua.Um falante que tem o inglês como língua materna, ao ver o objeto “mesa” pensará talvez terá a mesma definição, mas o signo será table, ou seja, cada língua possui sua forma de categorizar.

Ao afirmar que o signo não é a realidade, apontamos para a dicotomia de Saussure: o signo nada mais é que um conceito ligado a uma imagem acústica; uma impressão psíquica que ativa “frames” da linguagem e suscita no falante nativo a compreensão do que aquele signo evoca e não do que ele é.

A substância do signo é o som unido a um conceito que por meio da imagem, da impressão psíquica, é capaz evocar referentes, de criar um mundo autônomo de coisas inexistentes ou ausentes, sem a necessidade de que essas sejam reais. O universo dos signos lingüísticos que vigora em uma língua, pode, por isso, não só “nomear”, “categorizar” e servir de ferramenta para a comunicação, o signo é o modo de ver e pensar o mundo uma vez que os signos prescindem a coisas e objetos; não é preciso das coisas ou objetos para comunicar-se, mas é preciso dos signos, que organizam seu o pensamento com sua natureza simbólica e referencial. A guisa de exemplos, podemos citar os signos bruxa, vampiro, fantasma etc. que não existem na realidade, mas que ganham existência no universo linguístico. Esse fato só é possível por que o que rege os signos não é a natureza real, factual ou fictícia, mas o valor que lhe fora concedido dentro do sistema linguístico.

A noção de valor dá-se por meio da oposição de significado, de sentidos entre signos. Cada signo linguístico é único, o que caracteriza a relação de alteridade, estabelecendo então que o valor que há em um signo não existe em outro. Por isso, podemos observar que os signos lingüísticos não se confundem entre si, cada um categoriza algo distinto no conjunto dos demais signos.
Mesmo quando falamos dos sinônimos, observaremos que há no mínimo um sema que garante a precípua distinção semiológica, uma vez que um signo delimita o outro, principalmente num mesmo contexto ou ambiente linguístico. Isso só é possível porque o valor dá-se pela diferença entre significantes e significados.
O fato de não haver univocidade entre os signos ou correspondência direta entre eles faz com que haja um esforço maior na atividade de tradução para encontrar signos com “valores” aproximados.
Nessa atividade, entra em jogo o conhecimento não só da língua, mas da cultura daquele país a fim de que se possa apreender o sentido do texto para aquela comunidade linguística e traduzi-la sem grandes prejuízos para a língua alvo. Podemos esclarecer por meio de um exemplo: utilizaremos o signo amor; em hebraico há o termo “ahabah” para designar o amor com sentido marital (ler gêneses, 29,20). No entanto, existe outro termo “dod”, que sintetiza relacionamentos humanos como o de casais e também expressa relação sexual e a relação de idolatria. No novo testamento da Bíblia, temos designativo para o amor em termos gregos: ágape para o amor a Deus; Eros para o marital e Phileo para expressar o amor com sentido de amizade. Em português, esses valores se coadunam em um só signo, devendo o tradutor observar o entorno do texto, as bases sócio-culturais que se tem como fulcro para clarificar, então, o sentido do termo utilizado a finalidade de seu emprego. Em português o termo amor é mais amplo e abrange todas as relações de afeto.

Partindo desse pressuposto, podemos dizer que cada signo possuir no mínimo um sema que o diferencie de todos os outros. Sendo assim, nenhum signo lingüístico é equivalente ou correspondente exato, pois haverá sempre, no mínimo um sema no significado ou nos merismas (no significante) que os tornam únicos pela oposição.

Se a língua, como diz Saussure, é um sistema de signos, esses signos devem estar delimitados de tal forma que se distingam como duas realidades linguística de valor; e por isso, um signo torna-se interpretável por outro em razão dos sememas que os delimita, quando se contrai relação com conjunto de signos da língua.
O valor é, portanto, o que um signo é em detrimento do que os outros não são. Fiorim vai dizer em seu estudo que a significação é uma diferença entre um signo e outro na interpretação e na produção de diferenças.
Estabelecer diferenças entre palavras antônimas num mesmo eixo paradigmático que se tem intenção clara de opor o semema dos signos não seria de difícil apreensão. Signos como: amar/odiar; começar/parar etc é facilmente interpretável como opostos, pois têm valores distintos no sistema de signos. No entanto, quando há uma relação de sinonímia, as nuances diminuem e requererá do escritor uma seleção: o que será colocado ao lado de, ou no lugar de? O que leva um elemento da língua ser “colocado” em lugar de outro é determinado pela intenção do enunciador, o efeito que se quer obter, é a escolha consciente que objetiva criar sentido para quem ler e interpretar. Nos signos “gostar”, “amar” e “adorar” temos nuances dos valore. Estes signos colocados em ambientes lingüísticos próximos, criam efeitos de sentido provocado pelos valores distintos entre eles:

Ele adora Maria.
Ele gosta de Maia.
Ele ama Maria.

Se o signo Maria fizer alusão à uma provável namorada, haverá uma graduação do afeto: adora/gosta/ama, uma vez que em português “adorar” não possui o mesmo valor que para os hebraicos. E, em relação a afeto, o termo possui menos intensidade que gostar e amar. Ou seja, o valor de gostar e amar é mais utilizado para demonstrar afetos. Já se o nome Maria representasse a “mãe de Jesus”, os valores se inverteriam e o signo “adorar” sobrepujaria os outros signos, ganhando valor de “latria”, culto prestado a alguém. Portanto, é o falante que fará escolha do signo, levando em consideração o objetivo pretendido. Amar/adorar/gostar terão valores distintos na língua portuguesa quando estabelecer relação

7 comentários:

  1. Muitoo boa a explicação!

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  2. Gostei muito do assunto abordado encontrei até mais do que esperava

    Grata

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  3. Muito interesante a espanação sobre o signo linguístico, mas seria de muito valor se esse assunto fosse aprofundado, visando discutir ou esclarecer o seu envouvimento a respeito dos universais, um tema muito discutido na filosofia medieval.

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  4. Aqui nem tem o conceito de folhetim

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  5. Aqui nem tem o conceito de folhetim [2]

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  6. Que lástima, meu Deus! Como tem gente burra nesse mundo! Não conseguem interpretar uma explicação simples, então fazem a única coisa que sabem: dizer palavrões, pois é evidente que o vocabulário é restrito!!!

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    1. Tive de excluir alguns comentários porque algumas pessoas realmente não sabem interpretar! As críticas são sempre válidas,mas só faz crítica quem possui conhecimento! Sendo assim... ficam os posts com mesura que se deve!

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