Pesquisar este blog

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O instinto da linguagem

Fichamento do livro de PINKER, Steven. O instinto da linguagem;


Cap. 1 Um instinto para adquirir uma arte

Ao ler estas palavras você estará participando de uma das maravilhas do mundo natural. Porque você e eu pertencemos a uma espécie com uma capacidade notável: podemos moldar eventos nos cérebros uns dos outros com primorosa precisão. Essa habilidade é a linguagem. Por meio de simples ruídos produzidos por nossas bocas, podemos fazer com que combinações de ideias novas e precisas surjam na mente do outro.

Em qualquer história natural da espécie humana, a linguagem se distingue como traço preeminente. Um humano solitário é, decerto, um engenheiro e fantástico solucionador de problemas. Mas uma raça de Robson Crusoés não impressionaria um extraterrestre. O que realmente comove quando se trata de nossa espécie fica mais claro na história da Torre de Babel, em que os homens, falando uma única língua, chegaram tão perto de alcançar o céu, que Deus sentiu-se ameaçado. Uma língua comum une os membros de uma comunidade numa rede de troca de informações extremamente poderosa. Todos podem beneficiar-se das sacadas dos gênios, dos acidentes da fortuna e da sabedoria oriunda de tentativas e erros acumulados por qualquer um, no presente ou no passado. E as pessoas podem trabalhar em equipe, coordenando seus esforços por meio de acordos negociados.

A linguagem está tão intimamente entrelaçada com a experiência humana que é quase impossível imaginar a vida sem ela. Quando as pessoas não tem com quem conversar falam sozinhas, com seus cães e até mesmo com suas plantas. Em nossas relações sociais, o que ganha não é a força física, mas o verbo – o orador eloquente, o sedutor de língua de prata, a criança persuasiva que impõe sua vontade contra um pai mais musculoso.

Este livro trata da linguagem humana. Diferentemente de vários que levam “língua” e “linguagem” no título, ele não vai repreendê-lo sobre uso apropriado da língua, procurar as origens das expressões idiomáticas (...) pois não escrevo sobre o idioma inglês ou qualquer outro idioma, mas sobre algo bem mais básico: o instinto de aprender a falar e aprender a linguagem.

Há uns trinta e cinco anos, nasceu uma nova ciência agora denominada “ciência cognitiva”, que reúne ferramentas da psicologia, da ciência da computação, da linguística, da filosofia e neurobiologia para explicar o funcionamento da inteligência humana.

A recente elucidação das faculdades da linguística tem implicações revolucionárias para a nossa compreensão de linguagem e seu papel nos assuntos humanos, e para nossa própria concepção da humanidade. Muitas pessoas cultas já têm opiniões sobre a linguagem. Sabem que é a invenção cultural mais importante do homem, o exemplo quintessencial de sua capacidade de usar símbolos, e um acontecimento sem precedentes em termos biológicos, que o separa definitivamente dos outros animais. Sabe que a linguagem impregna o pensamento, e que as diferentes línguas levam seus falantes a construir a realidade de diferentes maneiras. Sabem que as crianças aprendem a falar a partir das pessoas que lhes servem de modelo, e dos adultos que cuidam delas, sabem que a sofisticação gramatical costumava ser fomentada nas escolas.

Nas próximas páginas, tentarei convencê-los de que estas opiniões corriqueiras estão erradas. Erradas pelo seguinte: A linguagem não é um artefato cultural que aprendemos da maneira que aprendemos a dizer a hora ou como o governo federal está funcionando. Ao contrário, é claramente uma peça de constituição biológica de nosso cérebro. A linguagem é uma habilidade complexa e especializada que se desenvolve espontaneamente na criança, sem qualquer esforço consciente ou instrução formal, que se manifesta sem que se perceba sua lógica subjacente, que é qualitativamente a mesma em todo indivíduo.

Alguns cognitivistas descreveram a linguagem como uma faculdade psicológica, um órgão mental, um sistema neural ou um modo computacional. Mas prefiro o simples e banal termo”instinto”. Ele transmite a ideia de que as pessoas sabem falar da mesma maneira que as aranhas sabem tecer teias. A capacidade de tecer teias não foi inventada por uma aranha genial não reconhecida e não depende de receber educação adequada ou de ter aptidão para arquitetura ou negócios imobiliários. As aranhas tecem por que têm no cérebro de aranha, o que as impele a tecer e lhes dá competência para fazê-lo com sucesso.

Pensar a linguagem como instinto inverte a sabedoria popular, especialmente da forma como foi aceita nos cânones das ciências humanas e sociais. A linguagem não é uma invenção cultural, assim como a posição ereta não o é. Uma criança de três anos é um gênio gramatical, mas é bastante incompetente em termos de artes visuais, iconografia, religiosa, sinais de trânsito etc.

Embora a linguagem seja uma habilidade magnífica exclusiva do homo sapiens entre as espécies vivas, não quer dizer o estudo dos seres humanos deve ser retirado do campo da biologia, pois existem espécies que possuem habilidades magníficas, o morcego por exemplo, capturam insetos no ar com um sonar. No show dos talentos da natureza, somos apenas uma espécie cujo maior espetáculo é o jeito todo especial de comunicar informação sobre quem fez o que para quem modulando os sons que produzimos quando expiramos.

A linguagem, então passa a ser vista como uma adaptação biológica, que é parte de nossa herança genética, biológica, mas que também é adaptação para transmitir informação. Por fim, resume-se que a linguagem seja produto de um instinto biológico, bem planejado, interno. Não é algo que os pais ensinam os filhos ou que se aprende na escola. Uma criança possui conhecimento tácito de gramática mais sofisticado que o mais volumoso manual de estilo ou do que o mais moderno sistema de linguagem de computador. O home tem uma tendência instintiva para falar, como vemos no balbuciar de nossos pequenos filhos.

No século XX, Chomsky elabora a mais famosa tese de que a linguagem é como um instinto, e que as crianças desenvolvem gramáticas complexas rapidamente, sem qualquer instrução formal, e a medida que crescem, dão interpretações mais coerentes a novas construções. Para ele, as crianças têm de estar equipadas de modo inato com um plano comum às gramáticas de todas as línguas, uma gramática universal, que lhes construam o padrão sintático da fala de seus pais.

Chomsky e outros teóricos desenvolveram teorias de gramáticas mentais que subjazem aos conhecimentos que as pessoas têm de certas línguas e da Gramática Universal. Os estudos sobre a linguagem despertam interesses de diversos estudiosos, ampliando a discussão sobre esse fenômeno da linguagem. Cabe, porém, destacar a fascinação pelo tema da linguagem que desperta pesquisas em todo mundo, ratificando as já existentes, ou retificando-as.

Nenhum comentário:

Postar um comentário